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Algumas considerações sobre workshop terapêutico residencial

Atualizado: 26 de jan. de 2019

por Natália Rocha de Lima*



As amarras das instituições, o aprisionamento aos conceitos, o compromisso com um determinado modo de pensar. De tudo isto clamo por me libertar. Falta-me ainda coragem de ousar. A angústia, no entanto, inquieta-me, para que eu possa pelo menos tentar (Ana Maria Lopes Calvo de Feijoo)

O que é um workshop terapêutico

Workshop é um termo de origem inglesa que significa oficina e remete, portanto, a um grupo de pessoas com interesse em um mesmo assunto. Há inúmeros formas e tipos de workshop, como por exemplo, acadêmicos, empresariais, musicais, terapêuticos, dentre outros. Distinguem-se entre si, principalmente, em relação a sua proposta de trabalho e seu público alvo. O objetivo deste texto é fazer algumas considerações acerca do workshop do tipo terapêutico residencial.


Como o próprio nome sugere, workshop terapêutico residencial é um encontro vivencial e residencial com fins terapêuticos. Dentro dessa modalidade há diferentes focos, propostas e temas de trabalho. Ressaltam-se as diversas abordagens presentes na psicologia: a Psicanálise, a Comportamental e a Gestalt-terapia, entre outras, implicando cada uma delas em diferentes formas de condução e foco de atuação. Além disso, o público alvo pode ser família, casais, estudantes, jovens, adolescentes, comunidade de forma geral, profissionais em formação/especialização, e muitos outros.


O Worskshop Gestáltico

Em Gestalt-terapia, que tem como primazia a existência, pode-se dizer que um dos seus principais objetivos terapêuticos é a ampliação da awareness de si mesmo, dos sentimentos, dos pensamentos, do corpo, inclusive do próprio ambiente. Considera-se que o workshop terapêutico residencial é essencial na formação clínica do Gestalt-terapeuta, pois vai além de uma formação teórica e prática, envolvendo um trabalho mais pessoal.


Ou seja, propicia uma saga exploratória de si mesmo que implica em um caminho que se entrelaça com o desenvolvimento pessoal e a formação profissional.

O workshop didático

No Curso de Especialização Clínica em Gestalt-terapia do IGC – Instituto Gestalt do Ceará, o workshop residencial acontece em três momentos: após o início do curso, no terceiro ou quarto encontro do grupo; no meio do curso e no final do curso. Entendendo que o gestalterapeuta deverá se preparar não apenas teoricamente, torna-se um elemento obrigatório de sua formação e de sua preparação como clínico.

Diante disso, como se preparar para participar de uma experiência tão ímpar como um workshop terapêutico? Os gestalterapeutas adotam a premissa de que as pessoas estão sempre em construção e não prontas. Desta forma, pode-se pensar em preparação no sentido de disposição diante do desconhecido. Algumas atitudes pessoais podem possibilitar um encontro mais mobilizador, dentre elas: suspender os pré-conceitos (para emergir fenômenos do aqui e agora); estar aberto para trocas, estar sensível a escuta; ter interesse e respeito pelas pessoas, por suas histórias, por seus dilemas, acolher suas angústias; ter vontade de conhecer as pessoas; deixar-se afetar pela fala do outro e ter vontade de partilhar sentimentos, histórias; envolver-se, permitir-se estar em contato, perceber e ser percebido pelas pessoas; estar disponível e, por último, ter consciência da seriedade do encontro.


Tendo consciência dessas atitudes, entende-se que um dos propósitos do workshop terapêutico é tornar as pessoas mais sensíveis diante da pluralidade da vida. Por meio da partilha de experiências, sentimentos, medos, ansiedades e frustrações, aperfeiçoa-se a lida com o humano e com o que é próprio do humano.

As etapas do workshop terapêutico residencial, na formação do gestalterapeuta, variam bastante de acordo com o propósito do trabalho, com as características/formação do facilitador e com a disposição do grupo. Porém, destacam-se algumas peculiaridades: o método de trabalho é experiencial, o foco é na vivência; o facilitador, assim como o grupo, acolhe as inquietações que emergem, conduzindo as pessoas a se questionarem, refletirem sobre o dito e o não dito, ampliando, desta forma, as sensações e sentimentos que, na maioria das vezes, não estão claros. São inúmeras as formas de intervenção que vão se constituindo a partir da entrega e disposição do grupo.


Diferença entre workshop e psicoterapia de grupo

Isto posto, ressalta-se que há uma diferença entre trabalhos de psicoterapia de grupos tradicionais e os trabalhos em workshop terapêutico residencial. Neste último, o grupo se relaciona mais intensamente, ou seja, durante alguns dias, semanas ou até meses, o grupo convive diretamente, dormindo na mesma casa e desenvolvendo atividades para além das horas de trabalho terapêutico. Logo, alguns temas intrínsecos às relações humanas emergem de forma mais intensa, como os conflitos, a cooperatividade, o individualismo, as preferências, os anseios, as manias, as diferenças de opiniões e gostos pessoais, entre outros. Nos workshops residenciais do Curso do IGC os encontros duram três dias: sexta noite, sábado manhã, tarde e noite, e domingo pela manhã. Esse tempo é suficiente para que essas questões citadas também apareçam e o grupo possa decidir como e se vai aborda-las.



Benefícios para o aluno


São inúmeros os efeitos que o workshop terapêutico residencial pode trazer para a formação de um psicoterapeuta, pois o desenvolvimento pessoal é fundamental na formação de um clínico gestáltico. A fala, a escuta, o silêncio, o acolhimento, a empatia, o respeito, o interesse, são habilidades tão importantes na prática clínica que podem ser aperfeiçoadas ao se permitir vivenciar experiências do tipo daquelas evocadas pelo workshop. Ser tocado pelas histórias e lutas das pessoas nos torna mais humanos. Apesar de todas as pessoas terem suas próprias histórias e singularidades que as fazem únicas, em algum ponto há o encontro das vivências, há o encontro de vidas. Esse encontro traz o entendimento de que não estamos sós, que os caminhos percorridos individualmente se cruzam com os caminhos de outras pessoas. Desse modo, há um processo individual e um processo grupal.


Enfim, por meio do compartilhamento das experiências o grupo vai participando do processo terapêutico de cada uma das pessoas, percebendo, assim, que o contato com a dor, com a angústia e com as inquietações faz parte do processo de crescimento e que evitar essas emoções não ajuda muito. Um misto de sensações, emoções e sentimentos podem ser vivenciados em um espaço curto de tempo, mas para isso é necessário permitir-se. O simples ato de abertura e disponibilidade pode ser o elemento disparador de um processo de crescimento e mudança que poderá perdurar por dias, talvez meses, quem sabe anos.


 

*Natália Rocha de Lima é Psicóloga, psicoterapeuta do PAS – Programa de Atendimento Social do IGC e aluna da Turma III do Curso de Especialização Clínica em Gestalt-terapia do IGC - Instituto Gestalt do Ceará



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