Por Bruno Castro*
Atualmente percebemos que o envelhecimento, apesar de já ser uma realidade no Brasil, ainda enfrenta uma grande preconceito, seja pelos jovens ou seja pelos próprios velhos. No Brasil, já temos 13% da população sendo composta por idosos, número que tende a passar dos 20% nos próximos dez anos, segundo projeções do IBGE. Os anos atuais já são considerados pela ONU como a era do envelhecimento.
O público idoso vêm ganhando espaço publicitário a partir de produtos voltados especificamente para uma classe de idosos que é vigorosa e jovem
Apesar disso, vemos ainda muitos estigmas a respeito dos velhos, em primeiro lugar pela sociedade. Nesse sentido é curioso ler um artigo escrito pela antropóloga Guita Grim Debert[1] que aborda como a publicidade trata os velhos. Ela coloca que o público idoso vêm ganhando espaço publicitário a partir de produtos voltados especificamente para uma classe de idosos que é vigorosa e jovem, colocando que são esses os velhos que aparecem nas propagandas e comerciais.
Esses velhos são os recém-chegados à velhice, são os velhos que só possuem alguns cabelos grisalhos não tantas rugas, sem muitas manchas na pele pelo sol. Em poucas propagandas aparecem velhos com dificuldade de locomoção, com maiores rugas e próximos dos seus 80 ou 90 anos. As propagandas são materiais importantes, pois elas são representativos da opinião do senso comum sobre o tema e a opinião do senso comum ainda valoriza mais a juventude do que os idosos.
A juventude é ligada ao vigor, a potência, ao prazer, a força, enquanto que a velhice é ligada somente à decrepitude, à debilidade e à morte. Nesse sentido, isto é em parte culpa de nossa cultura ocidental que busca valorizar os valores da juventude e não os ligados a velhice. Nesse sentido, Cícero[2], em sua antiga obra, saber envelhecer, já dava algumas saídas para essa questão. Ele contrapõe a tranquilidade e temperança dos mais velhos, em contraposição ao vigor dos mais novos. Ele também coloca que muitos atos de distinção provêm da sabedoria e do discernimento que pode estar ao alcance dos mais velhos. Além disso, ele coloca que os mais velhos buscam outras formas de prazer, na conversa, no cultivo de plantas, na dedicação a atividades literárias e artísticas, para aqueles que buscam se dedicar aos seus gostos. Todas essas atividades são próprias daqueles que cultivaram o “seu espírito”, segundo o autor defende. Não estamos aqui fazendo apologias a alguma religião, mas a atividades que exercitam o lado cultural e simbólico do ser humano. Na medida em que essas atividades forem sendo cultivadas ao longo da vida ou mais enfatizadas a medida em que o envelhecimento se acentua, o indivíduo pode focar mais nelas do que no que ele perdeu com a sua juventude. Pois, como diria o autor, todas as idades possuem o seu ponto forte, se você souber utilizar o melhor do que cada uma tem a oferecer, você estará melhor do que outros que não o fazem. Dessa forma, à medida em que esses valores forem sendo melhor vivenciados pelos idosos e pelos jovens em especial, teremos uma representação melhor da velhice, menos atrelada aos fatores negativos da velhice e mais aos que pode ser cultivado ao longo do tempo.
Neste ponto, Cícero exalta: “Gosto de descobrir o verdor num velho e sinais de velhice num adolescente. Aquele que compreender isso envelhecerá talvez em seu corpo, jamais em seu espírito”[3]. A partir dessa afirmação do autor, podemos ver a velhice representada a partir de um de seus melhores expoentes, no caso a sabedoria.
Os Idosos Nas Sociedades Gregas
Nisso, o próprio Cícero já exalta que em Esparta os velhos já detinham várias deferências aos velhos, que eram respeitados e tinham vários privilégios. Simone de Beauvoir[4], em sua famosa obra, "A velhice", também aborda a velhice nas sociedades gregas. Ela coloca que as Polís gregas eram sempre geridas por um conselho, cuja formação se dava em especial por velhos. Esses conselhos aconteciam mais nas cidades nas quais a forma de governo era oligárquica, cujos governantes buscavam conservar o poder e eram chamados Gerusias. Nessas sociedades temia-se a ambição dos jovens e o seu espírito de iniciativa. A autora também fala sobre a sociedade chinesa antiga. Ela coloca que nessa sociedade se valorizava acima de tudo a experiência do que a força. Nessa sociedade patriarcal, toda a família devia deferências ao pai e a autoridade deste não diminuía depois do envelhecimento.
Nessas sociedades, mesmo a mulher, quando mais velha ganha um grande poder dentro do seio familiar e tinha muita influência sobre a formação dos netos. A autora completa: “O respeito se estendia, fora dos limites da família, a todos os idosos: muitas vezes as pessoas fingiam-se mais velhas do que realmente eram, para ter direito a atenções. O Quinquagésimo aniversário era uma data na vida de um homem. Entretanto, depois dos 70 anos, os homens deixavam os seus cargos oficiais para se prepararem para a morte. Embora conservassem a autoridade, deixavam o filho mais velho ao comando da casa. Venerava-se neles o ancestral a quem logo se renderia um culto”[5]. O respeito nessa sociedade era devido ao confucionismo, que associava a velhice a sabedoria.
O Idoso Na Sociedade Atual
Essa visão é totalmente diferente da visão social atual da velhice, que desvaloriza em excesso o idoso, que perpassa a visão do idoso como improdutivo dentro da estrutura social-econômica. Na perspectiva do artigo de Siqueira, Botelho e Coelho[6], o idoso aposentado entra na categoria de ex-trabalhador, de cidadão produtivo para improdutivo e de cidadão ativo para inativo. Neste sentido o indivíduo é considerado funcionalmente inapto para as demandas produtivas do mercado de trabalho atual. Em adição, o artigo de Miguel Filho e Flávio Foguel[7] coloca que o indivíduo brasileiro já após os 50 anos já é considerado como alguém com uma potencia de trabalho em declínio e já lhe são fechadas as portas do mercado de trabalho. Uma das consequências desse tipo de tratamento é o surgimento de várias doenças no idoso, dentre elas a depressão. Veja em nosso outro post como identificar a depressão no idoso.
Devemos prover uma maior educação aos adultos de meia idade para que eles possam valorizar mais os conhecimentos e experiências que adquiriram e disseminar mais amplamente valores positivos a respeito do idoso e do envelhecimento
Simone de Beauvoir, ao comparar diferentes sociedades históricas, cita que os jovens desqualificavam os idosos em muitas oportunidades pelo terror que experimentavam ao ver neles a futura decadência física. Ela cita também as sociedades pré-históricas, cujos idosos tinham uma visão ambivalente, sendo colocados tanto como incapaz e inúteis, como também sacerdotes, intercessores e mágicos. Neste ponto, os velhos eram valorizados a medida em que faziam a mediação com o sobrenatural, assim como que eram os mantenedores das tradições das comunidades.
Por fim, notamos que existe a necessidade de uma educação ampla sobre os valores dos idosos e dos ganhos que podem ser adquiridos pela idade, ao mesmo tempo em que devemos prover uma maior educação aos adultos de meia idade para que eles possam valorizar mais os conhecimentos e experiências que adquiriram e disseminar mais amplamente valores positivos a respeito do idoso e do envelhecimento como um todo, para que, ao longo do tempo a velhice possa ser observada em sua amplitude, seja como um período de enfraquecimento corporal, mas também de manutenção de diversas qualidades e conhecimentos culturais e simbólicos.
*Bruno Castro
É psicólogo formado pela UNIFOR - Universidade de Fortaleza, Mestre em estudo dos idosos pela UNIFOR, Gestalt-terapeuta pelo IGC - Instituto Gestalt do Ceará, Coordenador do Curso de Formação em Psicogerontologia Social, do mesmo instituto, atuando com psicoterapia de adultos e idosos, em consultório particular.
Notas
[1] Debert, G.G. O velho na propaganda. Cadernos Pagu, número 21, 2003, p. 133-155.
[2] Cicero, M. Saber Envelhecer, seguido de lélio ou a Amizade. Porto Alegre: L&PM, 2013.
[3] Ibid., p.13.
[4] Beauvoir, Simone. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
[5] Ibid. p.113.
[6] R. Siqueira, M. Botelho e F. Coelho. A velhice: algumas considerações teóricas e conceituais. Ciencia e Saúde Coletiva, Vol. 07, Num. 04, 2002, p. 899-906.
[7] Filho, M. A. N., & Foguel, F. H. dos S. Trabalhador idoso no mercado de trabalho : cluster é uma alternativa ? Mimesis, vol. 27, Num. 1, 2006, p.47–68.
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