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Veja em que investir na carreira de psicologia para tornar-se mais competente

Atualizado: 3 de fev. de 2021

Silverio Karwowski*



Você sabia que, segundo os dados fornecidos pelo Conselho Federal de Psicologia existem hoje no Brasil, 349.171 psicólogos e psicólogas - apenas no Ceará temos 9.199 psicólogas(os). Esse dado significa que o número de profissionais tem aumentado bastante e que, mais do que nunca, é necessário descobrir onde e como investir em sua carreira, independente de qual área da psicologia você queira seguir.


Quantos desses profissionais estão preocupados em investir na carreira para aumentar as possibilidades de sucesso profissional? Infelizmente não temos dados estatísticos que nos respondam essa pergunta, mas empiricamente podemos constatar que a grande maioria atua de forma intuitiva, sem um planejamento adequado e, principalmente, sem colocar um bom plano em prática. Querer viver bem da profissão sem clareza de onde quer ir e como vai chegar é como planejar uma viagem sem destino e sem saber a forma de locomoção... Ou seja, a viagem poderá ser um desastre, ou mesmo nem começar.


Lembro de uma situação que vivi há poucos anos atrás. Um aluno me viu entrar no meu carro (que nem era um carro tão novo, nem tanto luxuoso) e então me perguntou: "professor, quanto tempo eu demoro pra entrar num desses"? Evidentemente a pergunta era se a prática da psicologia o permitiria alguma conquista econômica e em quanto tempo. Respondi que depende de quanto recurso econômico se tem antes de se iniciar a carreira e, principalmente, do modo como ele iria fazer a gestão de sua carreira, perguntando então, o que ele tinha planejado para sua profissão. Foi então que ele demonstrou muita surpresa, pois em nossa cultura não somos educados para o planejamento econômico e a poupança, elementos fundamentais para o sucesso profissional. E em psicologia isso não é diferente, embora o cenário tenha mostrado ser cada vez mais necessário.


O planejamento, seja da carreira ou de qualquer outra ação, é um procedimento tão importante que Abraham Lincoln uma vez afirmou; "Se eu tivesse três dias para cortar uma árvore, gastaria dois afiando o machado". Isso implica dizer que dois terços de nosso tempo e energia devem estar voltados para o planejamento, nesse caso da nossa profissão. Saber os aspectos que você precisa desenvolver na profissão poderá lhe auxiliar a melhorar o alcance dos seus objetivos e da sua realização pessoal.


Nesse post irei mencionar e fazer considerações sobre os três aspectos que estruturam a profissão do psicólogo e que, quando bem entendidos e praticados, aumentarão não somente a satisfação do psicólogo com sua profissão, mas também o deixarão mais seguro em relação à possibilidade de renda na área escolhida, afinal, ao contrário do que muitos afirmam, acredito sim que psicologia dá dinheiro e que é possível se viver bem da profissão.



Entenda a profissão como algo que precisa ser cuidado

É importante saber ou lembrar que em qualquer uma das profissões, o profissional aumentará seu faturamento apenas se tornar-se consciente da necessidade de administrar o seu tempo, seu faturamento e os objetivos que tem para sua profissão e sua vida pessoal. Ou seja, todo profissional tem um limite de horas de trabalho que corresponde a determinado faturamento, não importa se ele está trabalhando como colaborador de uma empresa, em uma ONG, como funcionário público ou como profissional liberal, em seu consultório. O aumento do seu faturamento implica em pensar a profissão de forma mais profissional e não apenas de maneira intuitiva. Gosto mais de referir-me a essas características como o desenvolvimento da necessidade de gestão da carreira, um procedimento que diz respeito à  capacidade para planejar e gerir a profissão e obter rendimentos (sempre), independente de estar ou não trabalhando para uma organização​.


É preciso tornar-se desejado e pretendido por clientes (e empresas) que tem o interesse em adquirir os seus serviços afim de resolver seus problemas e dificuldades​

Essa compreensão da carreira irá implicar numa certa inversão do mercado de trabalho: ser procurado por clientes (ou empresas) que tem o interesse em adquirir os seus serviços​, e não meramente aguardar as oportunidades surgirem. Esta é uma habilidade que o psicólogo terá que desenvolver e se utilizar durante toda sua prática profissional, pois será fundamental para diferenciar-se dos demais profissionais de sua área e para atrair e manter seus clientes.


As habilidades de gestão de carreira são fundamentais para o sucesso em qualquer profissão, sendo isso verdadeiro também para o psicólogo. Essa é uma das tarefas a que se propõem as faculdades: ajudar a desenvolver as habilidades e competências dos alunos, afim de que tenham sucesso na sua profissão. No entanto, elas ainda não ensinam como e o que os futuros profissionais terão que fazer para viver bem de sua profissão. No caso do psicólogo, terá que desenvolver outras habilidades, principalmente se o profissional voltar suas atividades para a atenção direta às pessoas. E é claro, quem escolhe a psicologia como profissão tem como finalidade última, mesmo que indireta, o cuidado com as pessoas. Por isso, entendo que o sucesso na profissão e formação do psicólogo sustenta-se em um tripé: a formação, a prática e a pessoalidade. Esses aspectos estão articulados e presentes na carreira do futuro psicólogo e dos psicólogos já formados (mesmo que eles não os identifiquem assim) e dizem respeito aos aspectos que merecem total atenção para obtenção do sucesso na carreira de psicologia.



I - A formação do psicólogo

Uma boa formação profissional é realizada através de uma boa faculdade. Para que você saiba se fará uma boa graduação é importante que você considere o renome, a tradição e o tempo de fundação da instituição de ensino superior. Mas é preciso mais que isso, é preciso que seus mantenedores estejam diretamente comprometidos com a qualidade daquilo que realizam e não apenas objetivem faturamento.


Esse comprometimento se percebe por elementos tangíveis e intangíveis. Os elementos tangíveis dizem respeito a qualidade das instalações físicas, a aquisição dos livros recomendados pelo projeto pedagógico do curso (e também pela insistência na obtenção de mais exemplares), por exemplo. Os elementos intangíveis dizem respeito não somente à qualidade dos docentes atestada por sua titulação, mas principalmente na habilidade de ensino desses docentes. De nada adianta doutores que não sabem se relacionar com alunos ou com seu grupo de trabalho. Por último, a materialização do comprometimento institucional está numa metodologia consistente e na atenção constante à formação do aluno.


Mas além desses elementos é muito importante que o aluno entenda que a aprendizagem é um procedimento e um objetivo dele mesmo. Nesse sentido, o aluno deve tomá-la em suas mãos e aceitar que a formação não se restringe aos programas da faculdade

Cursos extracurriculares, seminários, congressos, encontros e jornadas, assim como os demais eventos científicos são fundamentais para o desenvolvimento da formação do futuro profissional.


Para aqueles que já se formaram, a continuidade e aprimoramento da qualificação se dá na realização de cursos variados que, para o psicólogo, podem ser de aprimoramento, de formação ou de pós-graduação (veja aqui a diferença entre esses cursos). Os cursos realizados após a faculdade terão a missão de desenvolver as habilidades que o psicólogo adquiriu na faculdade, aprimorando algumas e criando outras, e assim aumentando sua competência e consolidando sua formação.


Se você já terminou a faculdade e está em dúvida se o psicólogo deve mesmo fazer pós-graduação, veja em nosso outro post algumas considerações sobre o psicólogo e a necessidade de pós-graduação.



II - A Prática

A prática do psicólogo diz respeito à sua atuação direta com o objeto de seu trabalho, ou seja, as pessoas. Inicia-se com os estágios que realiza durante sua graduação, nas atividades de monitoria, e todo tipo de ação onde inicialmente possa ser acompanhado e supervisionado por um psicólogo, até a sua contratação para execução de um serviço, seja ele como profissional liberal ou colaborador.

Para o aluno de psicologia, a prática é um elemento fundamental de sua carreira, pois é exatamente aí que o futuro profissional irá validar o conhecimento adquirido, aprimorando as relações entre teoria e prática.

Percebo que uma das maiores ansiedades do aluno de psicologia está relacionada ao início dos estágios, sendo que, na maioria das vezes, esse interesse diz respeito às suas necessidades econômicas: conseguir uma atividade na área para auxiliar a custear os estudos e demais despesas familiares. Essa é uma ansiedade perfeitamente compreensível.

No entanto, gostaria de chamar a atenção do aluno para o fato que, em psicologia, normalmente a maioria dos estágios remunerados começam a partir do semestre em que o aluno cursa as disciplinas específicas relacionadas a recrutamento e seleção, geralmente do sexto semestre em diante.

Embora a área que a maioria dos alunos de psicologia se identifiquem seja a Clínica, não é nessa área que surgem as maiores oportunidades de estágio, e sim principalmente na área de Psicologia Organizacional, sendo rara a remuneração de estágio em psicologia clínica.

Ainda assim, muitos alunos conseguem o que está sendo chamado de Estágio Voluntário, aqueles em que o aluno faz em Instituições diversas, como CAPs, CRAS, Hospitais-dia, Clínicas Particulares, órgãos municipais ou similares, em que, sempre supervisionado por um psicólogo, realiza atividades afins com o grau de conhecimento que está obtendo na faculdade.

Os Estágios muito contarão para o currículo do aluno e enriquecerão sua prática. Portanto, não podem ser desprezados ou pouco considerados. Apenas chamo a atenção para que o aluno não os priorize em relação à sua graduação. Eles devem ser um complemento importante, mas apenas um complemento da formação. Se o aluno, além da faculdade também faz estágios, com certeza estará a frente de seus colegas, por mais que se dediquem à graduação.


Sabe-se que, cada vez mais, o aluno será responsável por sua formação. Essa inicia-se com o começo da graduação e não deve terminar nunca, pois sendo o ser humano dinâmico, ou seja, está o tempo todo em processo de mudança, o conhecimento deve acompanhar esse processo, sendo então constantemente renovado.


A prática para o psicólogo é um dos elementos de maior garantia da não obtenção de um conhecimento meramente intelectualizado, mas vinculado ao real e ao mercado de trabalho. Por isso, o investimento em trabalhos voluntários ou em estágios também é extremamente importante para o graduado. O Estágio para o psicólogo, ou seja, para aquele que já terminou a graduação, não é uma possibilidade a ser desprezada, pelo fato da pessoa já ser graduada. Pelo contrário, são desejáveis e importantíssimos. É por isso que cursos de pós-graduação, seja de formação ou lato sensu, com estágio supervisionado são preferíveis àqueles que não o oferecem. Sendo assim, pesquise bastante e escolha de forma que o curso atenda àquilo que você precisa da sua pós-graduação.


III - Pessoalidade


A pessoalidade, ou seja, o conjunto das características pessoais do psicólogo é, talvez, uma das temáticas mais necessárias e mais controversas.

Controversa porque existem muitos psicólogos que não entendem que o desenvolvimento pessoal é um aspecto fundamental para a formação do psicólogo e fundamental porque, no meu entendimento, o psicólogo é formado por 30% de conhecimento teórico-técnico e 70% de base atitudinal.

Até posso me pronunciar assim: o verdadeiro conhecimento é aquele que se transforma e se verifica nas atitudes, de maneira que a cisão entre teoria e prática, e entre ser e fazer, são apenas didáticas, nunca reais. Considerando isso, o desenvolvimento dos aspectos pessoais do aluno será exigido em cada uma das disciplinas do curso, mas é necessário que o aluno esteja disponível para experimentar as mudanças e lidar com as consequências das mesmas. Claro que sempre precisará de apoio, seja ele apoio pedagógico, encontrado na figura de professores e orientadores, seja ele psicológico, encontrado na figura de seus pares (os colegas de curso), os diversos profissionais que acompanham o aluno na faculdade, como por exemplo, aqueles que integram o Núcleo de Apoio Psicopedagógico - NAP, e/ou os profissionais de psicoterapia.

"A terapia possibilita ao indivíduo deixar de repetir de forma morta sua vida, apresentando um novo conflito criativo que convida ao crescimento, à mudança, ao excitamento e à aventura de viver." (Fritz Perls)

Acerca desse item, a psicoterapia, há uma grande discussão se a psicoterapia deve ou não ser obrigatória para o futuro profissional e o profissional de psicologia. Diversos argumentos são apontados contra e a favor. Faço parte daqueles que defende a ideia de que todo e qualquer ser humano tem questões a serem resolvidas e/ou aprimoradas, sendo então desejável que se submeta a algum processo de autodesenvolvimento, dentre eles, a psicoterapia.


No que se refere ao profissional que irá aderir à área clínica, ou seja, tornar-se um psicoterapeuta, penso que a psicoterapia não é apenas desejável, mas indicada, senão obrigatória.

A prática clínica e a necessidade de psicoterapia está fundamentada em princípios científicos que pressupõem sere necessário ao profissional obter:


  1. a habilidade para fazer distinção entre os problemas pessoais e aqueles referentes ao paciente;

  2. o conhecimento e a experiência em ambos os lados do processo terapêutico: o do paciente e o do profissional;

  3. a consciência e relativa resolução dos próprios problemas, de forma que não sejam um impedimento para o autodesenvolvimento e nem para auxiliar os pacientes em seu processo de cura;

  4. o entendimento dos paradoxos constitutivos da relação terapêutica (elementos opostos que, por mais que o profissional se esforce por tentar integrá-los, eles continuarão se opondo de maneira conflituosa) com suas importantes implicações.


Poderia citar mais uma diversidade, mas entendo que o aluno deverá estar disponível para conhecê-la durante sua graduação.


A competência do psicólogo será sempre um resultado do investimento que ele faz: na sua formação - que deve ser constante e não apenas na faculdade, na prática profissional - que deve ser diversificada; e no desenvolvimento pessoal - que se dá cada vez mais no seu aprimoramento como pessoa.

Se você achou importante o tema abordado aqui e gostaria de conhecer as etapas da carreira do psicólogo, veja o próximo post onde essas etapas são expostas. O conhecimento dessas etapas auxilia o profissional não apenas na escolha dos melhores caminhos mas, a evitar problemas futuros e se esses problemas surgirem, estar mais preparado para lidar com eles.

 

*Silverio Karwowski é psicólogo e licenciado em psicologia pela UFU - Universidade Federal de Uberlândia, mestre em psicologia clínica pela PUC-Campinas, gestalterapeuta pelo Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo, e diretor do IGC - Instituto Gestalt do Ceará.

 


VEJA AQUI OUTRAS POSTS SOBRE A FORMAÇÃO E PRÁTICA EM PSICOLOGIA







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